junho 24, 2008

Pele de Neruda

A sensação foi única: compreender enfim, em todas as possíveis interpretações o que ele queria dizer. E pela minha boca ouvi as suas palavras ecoarem. Tão doces e delicadas, assim como era de se esperar. E daquele lábio o sabor das estimadas hemáceas, glóbulos brancos de futuro, plaquetas de eternidade. Sabor único, sentido vez uma só na vida. E assim é, pelo fato daquilo não se repetir nunca mais, daquela forma uma como ocorreu.
Tudo se embrenhou num momento mágico. A maldade humana poderia injetar-me todos os seus vírus que imediatamente um retrovírus seria criado, o coração amansou, a circulação acalmou. Os olhos extasiados pela situação récem criada, percorria todo o palco do acontecimento, e aquele ambiente fora registrado no filme de coisas que lembramos quando a morte está a nos estender a mão.
Sublime sensação. Ascenção dos corpor. Carícia das estrelas mais altas. Feliz de ter sentidos, de aproveitar e armazenar aquilo.
Na contagem do povo da Terra um dia se passou. E o que parecia mágica se tranformou em cotidiano, raiva, e todas as associações que os nossos precedentes sapiens nos deram ao longo da nossa evolução...
E tudo volta ao normal... vida cotidiana cinza, poucas especulações, falta de vontade de se dar...
E cadê aquela folha que se enraizou em meu peito? Aquele fio que em meu seio jazia?
Ah! vida, vida, vida. É só isso mesmo?

junho 21, 2008

Talvez uma idéia para o livro...

-Você pode me encontrar hoje as 17:30?
-Sim, claro. Devo me ausentar de algumas atividades após o trabalho, e sim, posso encontrar com você sem problemas.
______
tic-tac (17:00hs)
______

-Pena, imprevistos aconteceram e não poderei mais estar presente junto a sua pessoa.
-Uma pena... precisava mesmo te ver para conversar, e ter um momento de afago, tão dificil nesses dias que vivemos...
______

E assim ambas as partes começaram a viver momentos inesperados. Momentos que aconteceram além de suas vontades. Desprogramados, fora da ordem. E talvez, os melhores momentos que existam na vida dos seres humanos, isso vai depender do nivel de imprevisibilidade que cada um está acostumado a lidar.
Basta agora desagregar todas essas possibilidades...

junho 15, 2008

Hoje só escrever. Só tentar me perder como eter em nossa atmosfera. Refletir sobre essa poeira cósmica que é meu corpo. Subir o quanto der, o quanto me for permitido. Olhar pra você e para as suas letras, e sentir como num estalar de dedos, as coisas podem se configurar de uma maneira diferente. Mirar aqueles olhinhos castanhos, e absorver aquele cheiro que tanto me fez suspirar.
E cair... dar de cara com a realidade, que transforma a maioria dos nossos sonhos em quase nada. E assombrar-se com a estrodante gargalhada da maldade, ao ver no chão todas aquelas pérolas esmagadas e sem brilho, aquelas que você adquiriu com tanto suor ao longo dos seus massificantes dias... é realmente muito triste.

junho 02, 2008

"Tempo fazia que ele andava com o coração nas mãos, a vagar de um lado para o outro a procurar por alguma coisa, algo que lhe fizesse enfim sublimar toda aquela condensação de dores remotas... dores que não lhe cansavam de atormentar os sentidos. Saiu de casa naquele dia sem grandes propósitos, encontrar amigos e sorrir eram os traçados planos. E menos ou mais, os fatos assim aconteceram. Abraços mornos, líquidos sorridentes... ah! e a lua? Que ele nem poderia saber como viria iluminá-lo...."


Fragmento do texto de José Pedro de Carvalho Neto e Daline Lucena.