maio 19, 2011

Sobre a delicadeza: ou, o que resta da beleza na humanidade.

É preciso tempo pra deglutir, degustar todas as coisas boas que felizmente recaem sobre o meu cotidiano. Ontem estava a pensar: preciso de um gravador. Em simples 20 minutos, tempo de caminhada até o lugar onde trabalho, percebi tantas coisas. Tanta beleza que só poderia ter sido produzida por nós - afirmação feita sem ego negativo. Cheiro de amaciante em roupa lavada, que me traz tantas boas recordações...e o turbilhão de boas sensações que isso me causou e me causa. O tênis novo e branco. Os cachorrinhos na rua. Morria em mim um mal humor...de ter acordado cedo, de estar chovendo...mas, diante da vida acontecendo e pulsando ali diante mesmo dos meus olhos, não pude deixar de sorrir, e perceber que a maneira com a qual acabamos seguindo nossos dias, trabalho, problemas, stress, cobrança, impedem que o canal da nossa sensibilidade impere. Gosto dessa quebra de ritmo. Gosto de tempo para respirar, para lembrar dos acontecimentos bons que eu ja presenciei. Gosto de sentir a beleza escorrendo pelas mãos dos homens, gosto de admirar a maneira como alguns ainda lidam com delicadeza com o que é vivo. Gosto de me sentir viva, de saber que os meus órgãos estão funcionando bem, apesar daqueles dois hot-dogs ontem...rs.

Adoro sonhar. Com meu corpo em outro lugar, respirando o cheiro de outras flores, ouvindo o som de outros mares. Tenho um pouco de medo, pois às vezes tenho vontade de estar em todos lugares, de jogar pedrinhas em todos os rios, de tomar por fim aquela taça de vinho com aquela borboleta - coisas a resolver talvez. Tenho saudades de tantos outros momentos bons. Tenho saudade da praça que fica em frente à igreja com teto de ouro, tenho saudade de comprar água em dias de verão. De comer acerola em um dia dourado. De cerveja para acompanhar a contemplação de uma paisagem que nunca mais será a mesma diante de nossos olhos.

Sonhos. Os tenho em grande quantidade. E gosto de elencar aqueles que já bailaram diante de mim, para eu ter a doce sensação de que tudo é possível, de que a realização desles, só depende do tamanho da força da nossa atração.

O mundo é bom e novo como o tom da minha paixão. O mundo é lindo e velho como o tronco da minha vontade de escrever um livro. O mundo é quente como uma drusa de ametista.