junho 27, 2013

Ritmo

Algumas coisas são tão pessoais e intransferíveis que parece uma traição tentar descrevê-las em símbolos. Mas, é preciso disseminar, compartilhar. Sentimentos muito grandes geralmente não cabem em nossos pequeninos corações.
Chuva, matinhos molhados, tráfego intenso. Poluição que colore as tardes de cinza e me faz lembrar da cidade, da vida corrida, da falta de tempo para o amor e para a amizade. O tempo é cada vez mais curto. As palavras deixam de cair como mangaba no chão, prontinha para consumo, para uma espécie de dose homeopática de veneno escuro, que entra, e força e tende a deixar tudo meio sem graça. Insosso. É difícil andar por aí com Vincent debaixo do braço, tentando deixar pelos cantos o amarelo-vida de seus trigos, seus vermelhos e verdes de Flamboyant. Mas, é preciso. Há a necessidade de espaços menos densos onde possamos repousar a alma, onde os livros, a boa música possam ser delicadamente cultivados. O assombro destrói, queima a pele dos sentimentos e sensações boas. Transforma a mente, a empurra para a beirinha do  abismo. Manoel de Barros salva. Hum, Gandhiji também. E que bom que no final sempre rola uma luz. Bom ainda ter olhos para enxergar. Bom ter orações e mantras para entoar e ajudar o mal a permanecer do lado de fora.
'Alfajores insulares', talvez a humanidade precise provar.

junho 05, 2013

Quase.


Era tardezinha, quando ao entrar em casa, presenciei a chuva levar consigo as lembranças grandiosas do amor que se tinha vivido. A água com suas mãos ferozes remexiam bem a fundo, revirando e afogando qualquer sinal daquele sentimento. E ao ver aquilo, pouco pude fazer. Tentei separar as memórias da água, mas pouco ou quase nada restou.
Agora pela manhã o sol mostrou seu sorriso implacavelmente dourado. Mas talvez ele mesmo forças não tenha para ajudar. Som, viagem, estrada. Longos são os dias que nos separam. Mato, gado e mais árvores. Nada físico, tudo se encontra agora no etéreo das nossas referências. Que quase não mudam, mas que me atraem, ainda assim.
Limpeza? Talvez.
Som muito, por favor. Cartelas de comprimidos, se possível.
Depressão? Quem sabe. Melhor não.
Mais amor? Quase.
Mas, amor é bom.